Frutas e legumes com deformações e manchas podem ser tão saborosos e nutritivos quanto aqueles que parecem perfeitos.
Quem não torce o nariz para uma maçã com manchas, uma laranja com casca escura ou um tomate machucado? Com cara de fim de feira, frutas, legumes e verduras deformados ou com pequenas imperfeições são rejeitados pela maioria dos consumidores. O que poucos sabem, porém, é que eles podem ser tão saborosos quantos os outros e ainda representar economia para o seu bolso. Perante um feioso, sempre é possível pechinchar com o feirante ou lucrar com a xepa.
Para tentar desmistificar estes alimentos, o Diário Gaúcho convidou a nutricionista do projeto Mesa Brasil do Sesc, Ana Flávia Malmann Hauschild,
para ir até a Feira do Epatur, no Largo Zumbi dos Palmares, avaliar o valor nutricional dos produtos que acabam indo para o lixo por não agradar os olhos da clientela.
Comer alimentos “feios” está virando moda na Europa. Países como Portugal e França incentivam a população a consumir para evitar o desperdício.
Na tentativa de vender estes alimentos, supermercados da França oferecem pelo menos 30% de desconto. Um das frases da campanha é “uma laranja horrível faz um suco maravilhoso.”
O vendedor de frutas cítricas, Geraldo Nied conta que as laranjas do céu com cascas escuras e irregulares desagradam o cliente, enquanto laranjas de umbigo
que são lavadas e polidas com cera fazem bem mais sucesso. Ana Flavia experimentou a laranja do céu e aprovou o sabor. Ela não é aquela laranja linda e maravilhosa que se vê no supermercado, mas, quando a gente aperta, sente que é macia. Ela é rugosa porque não tem os agrotóxicos
e isso interfere na aparência dos alimentos – avalia a nutricionista.
Na banca do feirante Jorge Gomes, vários exemplos demonstram que quem vê cara não vê coração. Rejeitado pelos clientes, um melão de casca escura e manchas pretas está perfeito por dentro:É o melhor melão que o Brasil produz, vem do Rio Grande do Norte. É muito doce, mas as pessoas olham e acham que está machucado.
A pêra com casca ondulada também não vende. Por dentro, Ana Flávia garante que nada a difere das outras.
O cliente come com os olhos, é a cultura da aparência. Nem baixando muito o preço eles não compram. Essa pêra nasceu no meio dos galhos e se desenvolveu conforme o espaço que encontrou, por isso tem essas envergaduras. O pé de fruta não é uma máquina que vai fazer tudo igual, terá umas de pior aparência – explica Jorge.
A fruta pode ser naturalmente feia ou sofrer algum dano na hora da colheita, transporte e armazenamento, porém, na maioria das vezes o consumidor não perde em sabor e nutrientes. Só porque tem uma mancha não altera o valor nutricional. Em alguns casos, é bom consumi-la no mesmo dia da compra para não estragar – ensina a nutricionista Ana Flávia.