Desenvolvidas pela Embrapa Uva e Vinho (RS), cultivares de uva voltadas à elaboração de sucos posicionaram o Vale do São Francisco, em pleno sertão nordestino, como polo produtor da fruta para bebidas de alta qualidade, ao lado da Serra Gaúcha. Grandes empresas do setor alimentício lançaram marcas que usam a origem das uvas como diferencial de valor de seus produtos.
A Coca-Cola do Brasil lançou recentemente o suco 100% Origens Nordeste, linha premium da Del Valle que utiliza como matéria-prima as cultivares Isabel Precocee BRS Magna, ambas obtidas pelo Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil, da Embrapa.
Outra gigante do setor, a Miolo Wine Group, utiliza cultivares da Embrapa na elaboração do suco com a marca Sunny Days. Empresas menores, como a Asa Alimentos e a Paluma, mantêm a produção de sucos de uva de qualidade todos os dias do ano graças às cultivares brasileiras adaptadas às condições do Vale do São Francisco. Cada empresa desenvolveu um blend próprio tendo como base as uvas BRS, sigla que designa produtos gerados pela Embrapa.
Conquista recente – Há pouco mais de seis anos, a elaboração de suco não era um negócio viável na região. Mesmo com as condições favoráveis de solo e clima, que possibilitam a colheita de uvas ao longo de todo o ano, o Vale do São Francisco necessitava de cultivares que apresentassem alta produtividade e qualidade, demanda dos produtores e de técnicos da região.
“As tentativas de elaborar sucos no Nordeste já são antigas. Inicialmente tinham uma cor muito amarronzada, que não chamava a atenção do consumidor”, relembra João Dimas Garcia Maia, melhorista da Embrapa que, em conjunto com a pesquisadora Patrícia Ritschel, coordena o programa de melhoramento Uvas do Brasil. Ele comenta que mesmo com a disponibilidade de sucos brancos e rosés, a tradicional versão tinta continua sendo a preferida do consumidor, por causa da cor, do aroma e do sabor.
Ele conta que, para atender à demanda dos produtores, desde 1985, o programa tem uma linha de pesquisa dedicada a aprimorar a qualidade e oferecer maior competitividade ao suco de uva brasileiro, tanto nos polos tradicionais, como o Sul do País, como nas novas fronteiras: as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. “Desenvolvemos cultivares adaptadas ao clima e ao solo brasileiro, isso faz a diferença no produto final”, destaca o pesquisador.