A fruticultura da região está em alerta para uma nova mosca que tem registros de grandes estragos em pomares dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. O Brasil foi o primeiro país latino-americano a detectar a sua presença em 2013, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, provavelmente trazida para cá em frutos infestados de ovos da espécie. No nosso Estado, a espécie foi detectada nos municípios de Erechim, Vila Maria, Osório, Capão do Leão e Morro Redondo. Recentemente foi constatada no município de Vacaria, causando danos de até 30% no morangueiro.
As características da espécie Drosophila suzukii, conhecida como mosca-da-asa-manchada, são preocupantes para a fruticultura da região, como a baixa mortalidade, adaptação ao clima e preferência por frutas com caroço. É bastante semelhante com a espécie zaprionus indianus, que teve rápida infestação no final dos anos 1990 e causou sérios prejuízos no figo em São Paulo, se adaptando ao clima tropical.
De origem da Ásia Oriental, é um dos únicos drosofilídeos capazes de causar danos em frutos intactos. Esta espécie é muito semelhante às pequenas moscas que aparecem na fruteira de casa, indicando a decomposição de frutos já maduros. A diferença da D. suzukii é que a fêmea atua ainda no pomar, antes mesmo do fruto amadurecer. O dano primário ocorre quando perfuram o fruto para realizar a oviposição e, posteriormente, pelas larvas que se alimentam da polpa. Os danos secundários são causados por micro-organismos como fungos e bactérias, que levam o fruto à deterioração, o que poderá reduzir a comercialização destes no mercado interno ou à rejeição por países importadores.
Monitoramento
A presença de adultos de D. suzukii no campo pode ser monitorada através de armadilhas contendo iscas atrativas, que podem conter a já utilizada proteína hidrolisada ou ainda vinho ou vinagre de maçã. Em Pelotas e na região, há armadilhas sendo monitoradas pela equipe do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia, da Universidade Federal de Pelotas, liderada pelo professor doutor Flávio Roberto Mello Garcia. O projeto envolve três teses de doutorado, que são lideradas pelo professor doutor Marco Silva Gottschalk, e trabalhadas em laboratório e a campo pelos profissionais doutora Juliana Cordeiro, doutora Adrise Medeiros Nunes e doutorandas Daniele Schlesener e Jutiane Wollmann.
Controle
Segundo o professor Flávio Garcia, a D. suzukii é de difícil controle, pois apresenta grande capacidade de dispersão, elevado potencial biótico, podendo ter várias gerações por safra. Tem preferência por temperaturas amenas (entre 20°C a 25°C), sendo capaz de sobreviver a variações extremas de temperatura, o que a torna adaptável à Região Sul do país.
Recomenda-se a colocação de uma armadilha por hectare, em locais frescos e sombreados da planta e ao nível dos frutos. A instalação das armadilhas deve ser após o início do amadurecimento dos frutos, período em que em que estes começam a mudar de cor, o que coincide com o amolecimento da pele do fruto e a elevação dos níveis de açúcar.
O método de controle mais utilizado em locais onde há ocorrência dessa praga é o controle químico, mas já existem registros de possíveis inimigos naturais.
O controle cultural é outra ferramenta fundamental para o manejo da praga. Recomenda-se a eliminação de possíveis hospedeiros alternativos das áreas vizinhas aos pomares. Como os estudos ainda não estão concluídos, não há produtos registrados para controle no Brasil. A preocupação é crescente entre a comunidade científica e entre os produtores de frutíferas, já que o inseto está se espalhando antes mesmo de ser declarada como praga quarentenária, que é quando apresenta ameaça à economia agrícola do país ou região importadora exposta. O primeiro registro fora do seu local de origem ocorreu em 1980 no Havaí e entre os anos de 2008 e 2009 se disseminou rapidamente pela Europa e a América do Norte, estando hoje distribuída em todos os continentes. Os Estados Unidos já registraram prejuízos de 5 milhões de dólares e a Europa danos que chegam a 80% em pomares de pequenos frutos.
Diferença da mosca das-frutas (anastrepha fraterculus)
– a larva permanece no fruto
– perfura algumas frutas antes de amadurecer
– possui dias de pausa
– tem ciclo curto
– baixa mortalidade
Medidas de combate
– Remover os frutos caídos no chão
– Utilizar armadilhas para detectar presença
Culturas que podem ser afetadas:
Infesta uma grande diversidade de frutos, sobretudo os de tamanho pequeno, de pele fina e frutos de caroço.