Apesar de ser uma boa notícia para culturas como feijão, milho e sorgo, produtos relacionados à agricultura de subsistência, para a fruticultura irrigada, que depende de água nos lençóis freáticos, 2014 pode ser um ano difícil. Com a estiagem que perdura desde 2012, o lençol freático em regiões como a Chapada do Apodi, próximo a Mossoró, deve levar tempo para se recuperar. A estimativa do setor é de que, devido à seca prolongada, haja a necessidade de reduzir entre 30% e 40% a área plantada de melão, por exemplo, principal item da pauta de exportação do Estado.
A estimativa de chuvas dentro da normalidade para o interior do Estado foi divulgada ontem pelo meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bristot, em reunião do Comitê de Combate à Seca com a presença da governadora Rosalba Ciarlini.
“Nesses primeiros dias de fevereiro, houve evolução favorável em relação ao que os oceanos vinham apresentando, condições que facilitam a descida da zona de convergência para trazer instabilidade e chuva. Esse ano, nós teremos uma condição um pouco melhor”, afirmou Bristot. “Em algumas regiões, como o Alto Oeste, as chuvas já estão ocorrendo e a população já está plantando. Na segundo quinzena de fevereiro para março deve ter uma efetividade maior das chuvas”, completou.
Mas ele adverte que a situação não significa recuperação plena dos recursos hídricos. “Sabemos que no Seridó a situação está muito ruim, os açudes estão com a capacidade quase esgotada, mas se vier a se confirmar essa situação em torno do normal, pode favorecer a uma certa recuperação que venha a amenizar o quadro dos recursos hídricos”, disse.
Fruticultura – Contudo, a boa notícia não deve se estender à fruticultura irrigada, principalmente na Chapada do Apodi, entre Baraúnas e Mossoró, onde é preciso captar água do solo, através de poços. Segundo Bristot, o monitoramento do lençol freático mostra que é preciso ir cada vez mais fundo para obter água. “A recarga desses mananciais não é de uma hora para outra, leva tempo. Se nós tivermos mais um momento de frustração de chuvas, vai ser preciso escolher: ou você produz, ou dá água para a população”, avaliou.
“Em 2014, a redução de terra plantada pode chegar a 30%, 40%. Os produtores vão ter que se deslocar para onde tem oferta de água”, afirmou Barcelos. Segundo ele, neste ano, o RN poderá sofrer queda na área plantada de melão dos atuais 5 mil hectares para cerca de 3 mil e 500 hectares.
O produto é o principal na pauta de exportação do Estado. Com a venda para o mercado externo, em 2013, a cultura rendeu cerca de 30 milhões de dólares. Somando-se esse valor com os quase R$ 50 milhões em vendas no mercado interno, são cerca de R$ 120 milhões. “É uma fonte de emprego e renda no interior, onde há bolsões de pobreza”, disse Barcelos.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Vieira, concorda com Barcelos: “Se não houver recuperação do lençol freático, esse ano deverá ser muito difícil para a fruticultura”, afirmou.
Mas não é só o melão que está sendo afetado com os efeitos da estiagem e seu impacto nos aquíferos. Culturas como a manga e a banana também sofrem com a redução no nível dos lencóis freáticos, conforme salientou o analista de Mercado de Produtos Agrícolas, da Conab/RN, Luís Gonzaga Costa. Segundo ele, os efeitos da estiagem prolongada são sentidos primeiramente nos produtos de subsistência, depois nos pastos e, por consequência, entre os rebanhos leiteiros e de carne, até atingir a fruticultura irrigada, que é o terceiro setor a ser afetado. “Se outros estados nordestinos forem afetados pela estiagem, vai onerar o preço dos produtos”, avaliou.