Há pouco mais de duas décadas, muitos terrenos de Rancho Queimado estavam à venda. A agricultura enfraquecida dava sinais de que o êxodo rural era inevitável. Os rumos da história foram alterados quando moradores do distrito de Taquaras se reuniram para realizar uma festa para fomentar o cultivo de morangos. Tudo era novo: tanto o evento quanto a plantação da fruta que lentamente substituía o plantio de tomate e cebola. As novidades causaram descrédito em muitos. Por fim, o tempo comprovou que os visionários estavam certos. Hoje o município está inserido no roteiro turístico de Santa Catarina e ostenta o título de capital catarinense do morango. A Festa do Morango de Taquaras, que termina domingo, já está na 22ª edição. A produção anual, de 25 mil toneladas em média, é fruto do trabalho de 130 famílias e razão do orgulho dos mais de 2.700 habitantes.
Quando tinha 13 anos, Samuel Weiss dividia seu tempo entre a escola e a primeira plantação de morangos de Rancho Queimado. Era 1979, ano em que o pastor luterano Silvino Schneider trouxe alguns pés da fruta de sua cidade natal, Feliz (RS). Com o líder comunitário, o rapazinho aprendeu a cuidar das mudas, das flores e dos frutos. Hoje com 36 anos, Weiss cultiva, em um hectare de terra, 30 mil pés de morango orgânico. As plantas são importadas do Chile. Lá são produzidas com água das geleiras das Cordilheiras dos Andes. “Essas são consideradas as melhores matrizes do mundo”, explica, durante a colheita dos produtos que seguirão para as prateleiras dos supermercados e confeitarias da Capital. O produtor rural lembra que, cultivado de modo convencional, é possível colher em média 2 kg do fruto em cada pé. Já no plantio orgânico a produção não ultrapassa 800gr. A safra dura 90 dias. “É bem trabalhoso, mas estou feliz porque fiquei na minha cidade”, diz orgulhoso.
Ao avaliar a vida que deixou na cidade, a publicitária Letícia Weigert, 42, não deseja voltar. Ao lado de Samuel Weiss, ela conduz a pequena empresa da família. “Casamos na vida e no trabalho”, brinca, enquanto acompanha a seleção e embalagem dos morangos. Além da comercialização do produto in natura, Letícia se prepara para entrar em um novo nicho de mercado: a produção de geleias. “Amigos meus sabiam de minha habilidade para fazer o doce, então sugeriram que lançássemos nossa própria marca”, disse. No momento, a produção mensal é de 500 vidros de 250gr.