Pera, uva, maçã ou salada mista? Se você fizer uma investigação rápida, perceberá que, dessas opções, talvez a fruta menos avaliada nos centros de pesquisa e, portanto, conhecida em termos de benefícios à saúde seja a pera. Pobrezinha. Mas a verdade é que de pobre ela não tem nada. E novos estudos com o alimento não nos deixam mentir ou exagerar. Há alguns meses, pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, compilaram trabalhos sobre o vegetal publicados desde 1970. Não deu outra: o balanço geral rende bons motivos para levá-lo de vez à fruteira.
Um dos mais importantes diz respeito à alta concentração de fibras da fruta. “Encontramos, em média, 4 gramas dessas substâncias em uma unidade”, conta a nutricionista Cinthya Maggi, consultora da USA Pears, associação responsável por trazer variedades de peras americanas ao Brasil. Trata-se de uma bela contribuição para alcançar os 25 gramas diários de fibras recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Só que, para tirar vantagem pra valer, tem que manter a casca do alimento, grande reduto desses ingredientes. “Aí aproveitamos tanto as fibras insolúveis como as solúveis”, justifica Cinthya.
Contar com essa combinação é o melhor dos mundos. A versão insolúvel aumenta o bolo fecal e, assim, dá um chega pra lá na constipação. Já o tipo solúvel se junta à água e gera uma espécie de gel no intestino. Entre suas façanhas está atrair moléculas de colesterol e mandá-las para fora do corpo, além de controlar os níveis de açúcar no sangue.
Manter a casca da fruta é uma decisão esperta por mais uma razão. Nessa parte, estão reunidas doses abundantes de antioxidantes, conhecidos por proteger nosso corpo de radicais livres, moléculas por trás de inúmeros perrengues. Na revisão de Minnesota, os cientistas alegam que as peras são ricas especificamente em compostos fenólicos – em 100 gramas da fruta, são detectados de 27 a 41 miligramas desses elementos. Segundo Larissa Mathias, nutricionista da rede Hortifruti, outra substância com ação antioxidante que tem morada certa na casca da pera é a vitamina C.
Basicamente por causa da dupla fibras e antioxidantes, o cientista agrícola Kalidas Shetty, professor de metabolismo de plantas e segurança alimentar da Universidade do Estado de Dakota do Norte, nos Estados Unidos, acredita que a pera é dessas frutas que merecem ser reverenciadas na luta contra o diabete tipo 2. “Essas substâncias ajudam a adiar o aparecimento da doença e a controlá-la melhor caso esteja instalada”, resume o especialista.
Em testes feitos em laboratório, Shetty observou que a presença das fibras pode de fato modular a velocidade com que a glicose é usada pelo corpo para gerar energia. Em outras palavras, essas substâncias desaceleram a digestão, o que dá mais tempo para a insulina realizar o seu trabalho – isto é, liberar a entrada do açúcar nas células. Dessa forma, o pâncreas não precisa suar para produzir um tantão desse hormônio, fator que deixa o terreno propício para o desenvolvimento do diabete tipo 2. No artigo, os pesquisadores relatam que quem está a um passo da doença ou já convive com ela também sairia ganhando, já que o melhor aproveitamento do açúcar pode resultar em menor dependência de remédios – alguns deles com efeitos colaterais.
Quando a glicose entra nas células aos pouquinhos, há outros ganhos em jogo. E não só para diabéticos. “Quem pratica atividade física tem mais pique para malhar, porque o açúcar fica estabilizado por mais tempo”, exemplifica Cinthya. O ideal, para sentir o benefício, é comer a pera – com casca e tudo, não se esqueça – uns 30 minutos antes de calçar o tênis.